Audi tem maior crescimento do mundo no País

23/11/2009 12:39

O crescimento do mercado brasileiro chama cada dia mais a atenção das montadoras de todo o mundo, inclusive daquelas que não produzem no País. Uma delas é a alemã Audi, que vem expandindo suas vendas no Brasil e trazendo mais modelos para serem comercializados aqui. A meta de vendas para 2013 no Brasil já está estabelecida: a montadora quer comercializar cinco mil carros no nosso país. Antes esse número era aguardado só para 2015.

Até outubro, a Audi registrou crescimento de 36% no País. “Este ano, nós estamos crescendo a 36% em comparação aos 10 meses passados. É a maior taxa de crescimento da Audi no mundo neste momento: isto dá uma ideia de quão promissor este mercado é”, disse o presidente da Audi do Brasil.

A Audi já teve produção do modelo A3 no Brasil, em 1999. A operação foi encerrada em 2006, porque o volume de vendas não atendeu às expectativas. Em entrevista aos jornalistas Roberto Müller, Crislaine Coscarelli e Milton Paes, no programa “Panorama do Brasil”, o presidente da empresa no País, Paulo Sérgio Kakinoff, fala sobre o mercado brasileiro de carros premium e suas expectativas de crescimento.

O executivo contou que os negócios no Brasil estão bem e que, no momento, a importação continua a ser um bom negócio para a companhia, principalmente por causa do dólar. Outra questão importante, segundo o executivo, é a economia de escala, ponto que deve ser analisado para uma produção local. Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista.

Roberto Müller: Como vocês estão indo no Brasil depois de ganhar um prêmio internacional de design? Como vocês estão aproveitando o fato de a economia brasileira ter-se destacado e quase superado a crise financeira internacional? O câmbio está ajudando? Como é que vocês estão?

Paulo Sérgio Kakinoff: O Brasil tem guiado este setor com uma taxa de crescimento de entre 8 e 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Isto é muito significativo. Neste momento de crise que acabamos de passar, foi muito curioso ver o Brasil, no começo deste ano, tendo as mesmas performances que tinha no começo de 2008, enquanto em outros locais no mundo se registrava queda de 15%, 20% e 30%, como aconteceu em alguns meses no mercado norte-americano.

Não é nenhum exagero comparar o Brasil com esses maiores mercados, até porque o Brasil está disputando a quarta colocação dentre os maiores mercados mundiais de automóveis e conquistou três colocações nesse ranking nos últimos cinco anos. Claro que isso faz com que todas empresas do mundo voltem um olhar especial para o mercado brasileiro, e com a Audi não é diferente, muito pelo contrário. A Audi está presente em praticamente todos os mercados e vive em 2009 o seu principal jubileu. A Audi completou 100 anos e quebrou pela primeira vez a barreira de um milhão no ano passado. Isso aconteceu depois de treze anos de crescimento consecutivo, batendo o seu próprio recorde de comercialização. Nós combinamos esse êxito com uma fase acelerada do mercado. Crescer em uma velocidade duas vezes maior fez com que o Brasil saltasse em relevância.

Milton Paes: É exatamente nisso que eu gostaria de focar. Quando nós pegamos uma empresa automobilística no ramo popular, as medidas adotadas pelo governo, como a redução do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], realmente alavancaram o setor. Mas, quando passamos para o segmento premium, é um pouco diferente. Em tempo de crise, as vendas para esse segmento foram representativas neste momento no Brasil?

Paulo Sérgio Kakinoff: Em nenhum momento de crise o Brasil teve um crescimento menor do que de 15% comparado aos meses anteriores, até mesmo os mais críticos em relação ao mesmo período de ano anterior. Alguns fatores contribuíram com isso de uma forma significativa. O governo dos principais mercados tomou atitudes diversas visando a conter os efeitos da crise, e foram fórmulas o mais inusitadas possível. Poucas tiveram efeito tão significativo quanto o que tivemos aqui, no mercado brasileiro.

A velocidade com que as entidades de classe, juntamente com Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores], Abeiva [Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores], governo e órgãos ligados às empresas, reagiram e evitaram uma contração. Foi extremamente eficiente e muito rápida, e trouxe resultados também muito concretos em um período em que o mercado mundial se lamentava e sofria na crise.

Crislaine Coscarelli: Mesmo sendo este um mercado tão atrativo e tendo a Audi já produzido aqui no Brasil no passado, fica mais interessante para a Audi ser uma importadora e trazer os veículos de fora?

Paulo Sérgio Kakinoff: Os indicadores são muito mais robustos do que os que nós tivemos em décadas anteriores. Isso traz uma certa maturidade, especialmente no mercado automobilístico. Então nós estamos vivemos hoje um cenário que mostrou ter forças e robustez para enfrentar crises muito mais agudas do que as de um passado relativamente recente e de forma significativa.

Realmente temos uma robustez diferente da que tivemos em décadas anteriores. Isso está sendo reportado na mídia de maneira geral e esse resultado faz com que o Brasil consiga trabalhar hoje com taxas de fornecimento muito mais baixas do que nos períodos anteriores.

O Brasil tem uma mobilidade social evidente. As classes sociais mais baixas estão presentes em diversos produtos. Ocorre em menor escala no setor automobilístico, mas também acontece. Ao mesmo tempo, o Brasil desenvolveu uma excelência como produtor local de automóveis com uma eficiência bastante significativa e teve de fazer produtos de alta qualidade com preços que são altamente competitivos no mercado interno.

Essa mesma conjunção de fatores faz com que a indústria fosse crescendo e o Brasil estivesse menos sujeito a essa crise. Essa avaliação fez com que hoje, por exemplo, seja mais interessante importar os produtos do que produzi-los localmente.

Nosso segmento no Brasil é quase uma regra: praticamente todas as marcas do segmento estão importando seus carros. Isso é algo economicamente bastante viável justamente por uma taxa de cambio abaixo de R$ 2.

Milton Paes: E se o dólar disparasse? Vocês iriam avaliar a questão melhor para verificar se seria interessante voltar a produzir localmente ?

Paulo Sérgio Kakinoff: Quando analisamos a curva de comportamento do câmbio dos últimos dez anos, nós vemos basicamente um eletrocardiograma, e a Audi sempre trabalhou com uma maior parcela do seu portfólio importado. Nós já produzimos um único modelo aqui no Brasil, o Audi A3 [que teve produção local até 2006]. Como a estrutura da empresa se baseia basicamente na importação, ela obviamente tem de estar preparada para essa variação cambial, e quando olhamos um pouco mais para frente, a distância, temos uma visão mais holística das médias de câmbio e onde o câmbio se estabeleceu ao longo desse período. Nós vemos que o câmbio, historicamente, tem um comportamento de flutuação, como aconteceu este ano; nós estávamos, em fevereiro e março, a um câmbio de R$ 2,20 a R$ 2,30, e agora nós estamos falando de um câmbio na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,80. É óbvio que com aquele câmbio, com aquela taxa cambial, as operações de importação eram completamente desfavoráveis, e economicamente até inviáveis.

Mas, pelo histórico do Brasil, sabemos que esses são picos cada vez mais frequentes e que a estabilidade, pelo menos a média, está em patamares que fazem com que a importação seja algo muito mais atraente do que a exportação no segmento automobilístico, e ainda mais atraente do que a produção local. Eu estou falando especificamente de carros do segmento premium porque isso faz muita diferença.

Quando falamos de produzir localmente, pensamos quase exclusivamente na fabricação e montagem do carro. E tão importante quanto, é verificar a qualidade da instalação, o parque industrial de fornecedores que está instalado ali.

O segredo da indústria automobilística de fazer carros em grande escala que utilizam em média seis mil, sete mil componentes de diversos fornecedores que são agrupados em uma linha de montagem e comercializados, é: quanto maior é a complexidade tecnológica deste componente, menor é a escala do fornecedor, porque o mercado premium no Brasil representa 0,6% do mercado total de automóveis.

Então praticamente não existiria regra de escala nessa categoria se fôssemos trazer para o Brasil outros produtos para serem produzidos dentro do limite premium e o setor tivesse que desenvolver uma base de produção para um volume tão incipiente, comparado com o volume de automóveis produzidos localmente. Não é por acaso que o Brasil tem uma representatividade tão grande na indústria de carros do segmento dos compactos, e até de carros médios, e é praticamente inexpressivo na produção local de carros grandes, justamente porque os carros mais compactos e mais leves têm um nível de complexidade tecnológica menor.

Quando falamos em uma análise de produção de forma local, ela envolve uma quantidade significativa de fornecedores que deveriam se adaptar e investir para produzir uma capacidade ainda pequena de componentes de alta tecnologia.

Hoje, só para concluir a análise, mesmo quando nós só produzimos o Audi A3 no Brasil, uma parcela muito significativa dos componentes era importada, justamente por não haver aquele tipo de tecnologia, o que fazia com que a nossa exposição ao câmbio, mesmo sendo produtores locais, fosse bastante alta também. Muitas vezes nos vimos na condição de produzir aqui com custos combinados maiores do que seriam se nós tivéssemos optado pela importação.

Roberto Müller: Quanto a Audi está crescendo no País?

Paulo Sérgio Kakinoff: Este ano, nós estamos crescendo 36% em comparação aos 10 meses passados. É a maior taxa de crescimento da Audi no mundo no momento: isto dá uma ideia de quão promissor é este mercado.

Roberto Müller: Quer dizer que se alguém tiver dúvida de que a economia brasileira vai bem, esse crescimento de 36% da Audi dissipa qualquer dúvida.

Paulo Sérgio Kakinoff: É incrível. Justamente por ser um país extremamente populoso, nos últimos anos até vimos muitas dessas matérias que dizem respeito ao que é a economia e o investimento econômico. As iniciativas empresariais criaram e habilitaram pessoas a estar nos patamares de riqueza a ponto de elas serem classificadas como ricas e milionárias, algumas até bilionárias. Isso aconteceu em uma velocidade gigantesca bastante interessante e também reflete o êxito da economia, do crescimento econômico, até as pessoas passarem a se habilitar também a serem clientes do segmento premium, que está impulsionando nosso crescimento.

Roberto Müller: Em um período de crise, esses automóveis são mais caros. Quais o valor máximo e o mais baixo destes veículos?

Paulo Sérgio Kakinoff: Atualmente, esta é uma das discussões mais prazerosas do nosso segmento de faixa premium. No Brasil, é de R$ 100 mil, aproximadamente, e pode chegar na barreira de R$ 1 milhão. No caso específico da Audi, nossos produtos custam, em média, de R$ 100 mil a R$ 650 mil, que é o caso do R8 superesportivo da marca, com 510 cavalos. Quando me referi, porém, a uma discussão prazerosa que acontece diariamente, é quando eu motivo um cliente a comprar um carro e pagar, por exemplo, R$ 150 mil em um A4 que tem dimensões externaa similares às de carros produzidos no mercado nacional e que custam entre R$ 70 mil e R$ 90 mil. Quando o nosso vendedor começa a explicar a esse cliente, a apresentar a ele de fato o automóvel, muitos desses clientes já chegam em nossas concessionárias sabendo mais sobre o nosso produto do que efetivamente o próprio vendedor.

O brasileiro é realmente apaixonado por carros e é muito interessado em tecnologia. É uma característica dele. Quando nós apresentamos um carro de cinquenta itens com esse nível de diferença tecnológica em relação ao modelo fabricado nacionalmente ou uma oferta até importada, a análise muda. É um carro de alto preço, mas um carro de alto preço com um alto valor deixa de ser uma avaliação, pois esse carro custa R$ 150 mil.

É muito caro comprar um carro assim, mas você não está comprando um sedã: você está comprando o que há de mais avançado em tecnologia automobilística, sendo que a maior parte dessa diferença está em itens de segurança. Não é apenas o design, normalmente muito atraente e que continua a ser um dos principais itens de escolha de um automóvel no mundo todo -daí o motivo de celebrarmos tanto o prêmio que acabamos de receber-, mas especialmente a tecnologia que está notada pelo consumidor e avaliada por ele e que faz com que ele entenda que cada centavo que ele está pagando é recebido de volta em performance, segurança, conforto e conveniência.

Crislaine Coscarelli: Já que o consumidor brasileiro parece tão informado quanto você diz, ele sabe dos lançamentos que estão acontecendo lá fora? Ele exige que isso chegue o quanto antes?

Paulo Sérgio Kakinoff: Existe uma distância média de tempo entre um lançamento na Europa e um lançamento no mercado brasileiro, das marcas, de uma maneira geral, que pode variar de oito meses a dois anos. Como o consumidor está cada vez mais informado das datas, é inconcebível que ele tenha de esperar tanto tempo para ver no seu mercado um produto já lançado lá fora.

Para uma marca como a Audi, que trabalha em 120 países, não é possível lançar simultaneamente em todos eles um determinado modelo. Depende muito da importância que o seu mercado tem para matriz. É com orgulho e até satisfação que nós podemos comunicar que o Brasil está lançando produtos no mercado nacional apenas quatro meses depois do que está sendo lançado na Europa.

Este é basicamente o período mínimo que nós precisamos para que o carro venha para o Brasil, para que seja homologado, passe por todo o processo necessário e pela burocracia necessária em função da legislação do País, e esteja no mercado quase imediatamente, em sincronia com o mercado europeu. Para nós, que somos empresa filial no Brasil, é um diferencial que nos coloquem na escala de prioridade de um automóvel novo em um período tão curto.

Fonte: DCI

Notícias relacionadas