19/04/2010 10:26
As exportações do Grande ABC registraram, em março, crescimento de 19% em relação a fevereiro, depois de já terem subido 33% neste mês frente a janeiro. Os dados, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostram a gradual melhora da demanda no Exterior, segundo especialistas e representantes das indústrias.
De janeiro a março, as vendas ao mercado internacional totalizaram US$ 1,25 bilhão, 38% mais que no primeiro trimestre de 2009.
A avaliação dos analistas é de que depois do baque gerado pela crise financeira global, o cenário externo mostra, agora, tendência de recuperação. “O panorama melhorou, temos agora exportações até de veículos prontos; a quantidade não é tão grande, mas é bem mais do que foi no início de 2009, quando parou”, afirma o diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, Willian Pesinato.
Nesse município, nos primeiros três meses do ano, as encomendas de automóveis médios geraram receita de US$ 27 milhões, 313% mais do que no mesmo período de 2009 – quando esses veículos contabilizaram apenas US$ 684 mil em vendas externas.
Os números mostram ainda que a reação no consumo lá fora é puxada por países latino-americanos. No ranking dos principais destinos de produtos de São Bernardo, por exemplo, a Argentina é a primeira colocada (gerou US$ 334 milhões), seguida de Chile (US$ 84 milhões) e México (US$ 56 milhões). E houve expansão nas vendas para os três países: respectivamente, altas de 84%, 376% e 57%.
IMPORTAÇÃO – Com a ajuda do câmbio (o real valorizado frente ao dólar), as importações – que neste ano vinham caindo no mês a mês – também reagiram e apresentaram expansão expressiva de 32% em março frente a fevereiro.
Com isso, no primeiro trimestre, as aquisições de itens de outros países somam US$ 1,14 bilhão, bem acima (48%) do valor das compras internacionais no mesmo período de 2009.
Para o vice-diretor da regional do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, a política cambial e a busca dos fabricantes estrangeiros por mercados mais aquecidos (como o Brasil) faz com que principalmente as pequenas indústrias brasileiras sofram com o aumento da concorrência no País.
Dessa forma, esse município observou queda de 30% nas exportações – Diadema e Rio Grande da Serra foram as únicas cidades com variação negativa nas vendas ao Exterior no trimestre – e forte aumento (de 45%) nas aquisições de produtos de outros países no período.
“As empresas automobilísticas investiram na modernização de seus veículos e, com o apelo do dólar atraente, ampliaram a importação de peças, em detrimento da indústria nacional”, afirma Silva.
O coordenador do curso de Economia da Fundação Santo André, Ricardo Balistiero, avalia, no entanto, que o crescimento das importações é uma tendência nacional que se explica também pelo próprio aquecimento da economia. Segundo ele, os itens importados cumprem o papel de suprir a demanda, para que o País cresça sem gerar inflação muito elevada.
Sindipeças pleiteia alta na tarifa de importação
O Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) deve se reunir até o fim do mês com representantes do governo federal para ter a definição em relação à proposta do setor, de retirada do desconto de 40% no imposto de importação para a compra de peças do Exterior por montadoras e sistemistas (fabricantes de sistemas automotivos).
Atualmente, embora a tarifa de importação de autopeças varie de 14% a 18%, a legislação prevê, para a aquisição de itens que abastecem a linha de montagem de carros, a redução das alíquotas para 8% a 10%.
Segundo o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, as conversas estão avançando e o governo se mostra sensível em atender esse pleito, já que a balança comercial (exportações menos importações) do segmento até março já mostram déficit superior a US$ 1 bilhão. O dirigente projeta que, no ano todo, o saldo negativo deverá ficar em US$ 4 bilhões.
“Estamos preocupados, muitas empresas estão ameaçadas”, assinala Butori. Ele cita que, enquanto a produção de autopeças neste ano se mostra estagnada, a de veículos está em ascensão (cresceu 24% no trimestre frente a igual período do ano passado).
O presidente do Sindipeças ressalta que o governo poderia fazer uma compensação para as montadoras. “Poderia se calcular quanto o governo deixa de arrecadar e colocar (o desconto) em outra rubrica, por exemplo, no PIS/Cofins. Não quero que ninguém seja tributado a mais”, afirma. “Só queremos salvar as empresas brasileiras”, diz o dirigente.
A questão afeta o Grande ABC, onde estima-se que há mais de 600 indústrias do ramo de autopeças. Para o diretor da regional do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto, a retirada desse desconto seria importante. “Isso (a alíquota reduzida) tira a competitividade da indústria de autopeças nacional”, afirma.
Fonte: Leone Farias – Diário do Grande ABC