25/10/2012 14:15
A maior parte das 58 escolas municipais de período integral no ABCD, (89,6%) está em São Bernardo e Diadema. A Região conta ainda com somente uma escola integral estadual, que fica em Santo André. Proporcionar ao estudante uma formação que possibilite o contato com diversas áreas do conhecimento é o principal objetivo do modelo, que oferece atividades além do currículo básico da rede regular.
Nas unidades municipais, o sistema é desenvolvido por programas das prefeituras ou pela adesão ao Mais Educação, iniciativa do governo federal criada em 2007, presente em 32 mil escolas do País. Na Região, 16 mil estudantes de Diadema, São Bernardo e São Caetano frequentam escolas intergrais. No Mais Educação, as atividades são distribuídas em áreas determinadas pelo MEC (Ministério da Educação) e incluem letramento, educação ambiental e esportes.
Diadema adotou a iniciativa em 2009 e, hoje, 15 unidades municipais de ensino fundamental são atendidas pelo programa, sendo três escolas com carga de oito horas diárias e nove horas nas restantes. O município decidiu priorizar os alunos em fase de alfabetização, de seis a oito anos. Além do ensino regular, as crianças participam de atividades extraclasses, como visitação a museus e centros culturais.
“No Mais Educação, o aluno não fica o período todo na escola, mas passa a ter experiências em outros espaços”, explicou a secretária de Educação de Diadema, Márcia Santos. No município, são R$ 6,5 milhões anuais no programa, sendo R$ 4 milhões do governo federal e o restante de contrapartida da Prefeitura, para atender seis mil crianças.
Refeições – A Emeb Anita Catarina Malfatti, no Centro de Diadema, oferece ensino integral desde o ano passado. A participação das crianças no Mais Educação, que depende da adesão dos pais, é de cerca de 60%. A parte da manhã é destinada ao ensino regular, enquanto à tarde as crianças circulam pelos espaços culturais e esportivos do município. Todos recebem três refeições diárias.
“É um grande desafio. O programa demanda tempo, trabalho, investimento, é uma soma. A escola precisa construir uma rotina de trabalho e se reinventar”, afirmou a diretora da escola, Adriana Paula.
S. Bernardo conta com 37 unidades integrais
Em São Bernardo, 37 escolas já trabalham com carga horária estendida. Desde 2010, as unidades desenvolvem o programa municipal Tempo de Escola, que promove oficinas de cultura, esportes e artes duas vezes por semana. Desse total, nove unidades contam também com o Mais Educação.
“São programas semelhantes, só muda a duração das atividades. O Mais Educação tem frequência de segunda a quinta-feira, e o Tempo de Escola, duas vezes na semana”, explicou a responsável pela educação integral em São Bernardo, Elaine Lindolfo. Hoje oito mil estudantes de seis a 11 anos são atendidos pelos programas na cidade.
Seis escolas em São Caetano oferecem ensino integral por meio de iniciativa municipal para quase dois mil alunos. A medida funciona desde 2007 e é voltada a estudantes de seis a 14 anos. Entre as escolas com carga horária estendida está a Emef Padre Luiz Capra, que obteve melhor média no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) divulgado em agosto deste ano, com nota 7,3.
Mauá, Ribeirão Pires e Santo André não possuem unidades municipais com carga horária estendida. Rio Grande da Serra foi procurada, mas não respondeu até a conclusão desta reportagem.
Única estadual – Aberta neste ano, a escola do Jardim Riviera, na estrada do Pedroso, em Santo André, é a única mantida pelo Estado na Região a oferecer ensino em tempo integral.
A Secretaria Estadual de Educação informou que outras quatro unidades vão aderir ao modelo a partir de 2013, sendo uma em Santo André e outras três em São Bernardo. De acordo com a Secretaria, a implementação do sistema depende da aceitação da comunidade escolar e da disposição de espaço físico adequado.
Adoção de ensino integral requer projeto articulado
Propagada como saída para melhorar o desempenho do ensino público, a educação integral por si só não garante a qualidade das escolas. É o que acredita a coordenadora do curso de Pedagogia da Fundação Santo André, Marly Vizim. A professora destaca que o aumento da jornada escolar requer investimentos e um projeto articulado que envolve a diversificação do currículo, investimento e capacitação dos profissionais, e que estimule a participação direta da comunidade.
“A proposta não é uma coisa nova. Implementar o ensino integral exige articulação maior de todas as pessoas envolvidas, não basta aumentar o tempo na escola se as crianças continuarem presas nas carteiras. O desafio é saber como ocupar os espaços.”
A pedagoga destaca que, além dos investimentos para adaptação dos ambientes escolares, é preciso ter em mente que não basta ampliar o tempo dos alunos em sala de aula sem que haja um trabalho pedagógico que evite que as escolas de tempo integral se transformem em meros “depósitos de alunos”. Para Marly, a medida produz bons resultados quando é implementada de forma integrada com diversos setores, proporcionando a democratização do conhecimento e enriquecimento escolar.
“O ensino integral não é a criança em período integral na escola, é a criança mais tempo em espaços educativos. O esporte não pode ser entendido como a hora de brincar e a atividade em sala de aula como a hora do castigo. A escola precisa ser prazerosa”, argumenta Marly.
Modelo teve início nos anos 1950
O modelo de escola integral começou a ser colocado em prática no Brasil na década de1950, quando o educador Anísio Teixeira desenvolveu o projeto de Escola-Parque (voltado para atividades extraclasse) na Bahia, inspirado na realidade de escolas norte-americanas.
Mais tarde o conceito foi levado para Brasília e os projetos arquitetônicos das escolas, que ofereciam atividades culturais, esportivas e artísticas aos estudantes da rede pública de ensino, foram assinados pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Ele também foi responsável pelo projeto dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública), criado no Rio de Janeiro no início da década de 1980 no governo de Leonel Brizola. Sob coordenação do antropólogo Darcy Ribeiro, foram construídas 500 unidades naquele Estado, com a proposta de oferecer estrutura necessária para integrar os currículos escolares.
Fonte: ABCD Maior